Como já é de conhecimento geral Londres não é exatamente uma cidade barata. É inevitável nos primeiros dias tentar converter os preços para o Real de tudo o que você compra pela rua. Alguns amigos meus que já passaram por essa experiência de viver em uma cidade da Europa dizem que não há muito o que fazer nessas situações. O importante é ficar frio, senão você acaba enlouquecendo. Como diria nossa ex-ministra do turismo: “Relaxa e goza”.
Um dos motivos de eu ter escolhido vir para Londres foi que com o visto de estudante eu tenho o direito de trabalhar meio período e com isso pagar meus gastos no Reino Unido. A grande maioria das pessoas que chegam na mesma situação que a minha não tem muitas alternativas; tem que por a mão na massa! O primeiro teste que faço é para uma vaga de kitchen porter em um pequeno restaurante de tapas no Soho, bairro bohemio de Londres. Para quem não sabe kitchen porter é aquele cara que mais da pena de ver trabalhar dentro da cozinha: Lavar pratos, talheres, panelas, chão e outros. Depois de um turno de 8 horas, e literalmente defumado por causa do calor da cozinha, penso comigo mesmo: “Taí uma carreira que eu negligenciei, mas não custa nada procurar um pouco mais por outro tipo de trabalho.” Chego em casa e volto a procurar um outro emprego no Gumtree, famoso site de busca onde se encontra tudo o que se precisa em Londres. Dois dias e vários curriculos enviados depois recebo uma ligação a respeito de uma vaga para Barman em um club em Clapham Common. O nome do lugar é The Artesian Well. Com um estilo a la David Lynch o club que possui quatro bares divididos em três andares é decorado com várias esculturas do artista Rudy Weller, o mesmo quem criou a famosa escultura “The Horses of Helios” em Piccadilly Circus.
Posso dizer com total confiança e segurança que entrei em pânico quando comecei. No primeiro mês me ver trabalhar era o mesmo que assistir o Didi Mocó aprontando em uma loja de porcelana. Memorizar os spirits, pints, vinhos, aprender a fazer os cockteis, entender os pedidos dos clientes e tentar não quebrar todos os copos da casa foram as tarefas mais difíceis no início. Pensei mais de duas vezes em pedir as contas e procurar outro trabalho, mas pela incistência de amigos resolvi ir até o fim custe o que custar.
Alguns fins de semana depois, aos gritos e berros do Manager, fui aos poucos melhorando minhas habilidades barescas. No Club entram e saem novos bartenders todo mês, mas sempre tem aquele grupo que é a “base do time”. Entre sotaques distintos e sobrenomes cheios de consoantes fui me misturando ao “Leste” e ganhando meu espaço. Eslovacos, Bulgaros, Hungaros, Sérvios e outros misturando drinks e servindo clientes em um turno que começa as 8 da noite e termina as 4 da matina. A noite é bem corrida, mas no meio do caos ou no fim da noite depois de limpar o bar e enquanto contamos as gorjetas da para jogar conversa fora e dar umas risadas.