Sobre Europeus do Leste e Copos Quebrados

Posted in Londres on março 26, 2009 by pedron

Como já é de conhecimento geral Londres não é exatamente uma cidade barata. É inevitável nos primeiros dias tentar converter os preços para o Real de tudo o que você compra pela rua. Alguns amigos meus que já passaram por essa experiência de viver em uma cidade da Europa dizem que não há muito o que fazer nessas situações. O importante é ficar frio, senão você acaba enlouquecendo. Como diria nossa ex-ministra do turismo: “Relaxa e goza”.

Um dos motivos de eu ter escolhido vir para Londres foi que com o visto de estudante eu tenho o direito de trabalhar meio período e com isso pagar meus gastos no Reino Unido. A grande maioria das pessoas que chegam na mesma situação que a minha não tem muitas alternativas; tem que por a mão na massa! O primeiro teste que faço é para uma vaga de kitchen porter em um pequeno restaurante de tapas no Soho, bairro bohemio de Londres. Para quem não sabe kitchen porter é aquele cara que mais da pena de ver trabalhar dentro da cozinha: Lavar pratos, talheres, panelas, chão e outros. Depois de um turno de 8 horas, e literalmente defumado por causa do calor da cozinha, penso comigo mesmo: “Taí uma carreira que eu negligenciei, mas não custa nada procurar um pouco mais por outro tipo de trabalho.” Chego em casa e volto a procurar um outro emprego no Gumtree, famoso site de busca onde se encontra tudo o que se precisa em Londres. Dois dias e vários curriculos enviados depois recebo uma ligação a respeito de uma vaga para Barman em um club em Clapham Common. O nome do lugar é The Artesian Well. Com um estilo a la David Lynch o club que possui quatro bares divididos em três andares é decorado com várias esculturas do artista Rudy Weller, o mesmo quem criou a famosa escultura “The Horses of Helios” em Piccadilly Circus.

Posso dizer com total confiança e segurança que entrei em pânico quando comecei. No primeiro mês me ver trabalhar era o mesmo que assistir o Didi Mocó aprontando em uma loja de porcelana. Memorizar os spirits, pints, vinhos, aprender a fazer os cockteis, entender os pedidos dos clientes e tentar não quebrar todos os copos da casa foram as tarefas mais difíceis no início. Pensei mais de duas vezes em pedir as contas e procurar outro trabalho, mas pela incistência de amigos resolvi ir até o fim custe o que custar.

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Alguns fins de semana depois, aos gritos e berros do Manager, fui aos poucos melhorando minhas habilidades barescas. No Club entram e saem novos bartenders todo mês, mas sempre tem aquele grupo que é a “base do time”. Entre sotaques distintos e sobrenomes cheios de consoantes fui me misturando ao “Leste” e ganhando meu espaço. Eslovacos, Bulgaros, Hungaros, Sérvios e outros misturando drinks e servindo clientes em um turno que começa as 8 da noite e termina as 4 da matina. A noite é bem corrida, mas no meio do caos ou no fim da noite depois de limpar o bar e enquanto contamos as gorjetas da para jogar conversa fora e dar umas risadas.

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Post 2

Posted in Londres on janeiro 2, 2009 by pedron

O pior de escrever um post atrasado é explicar toda a história e acidentalmente ou fatalmente deixar um único ponto de vista de tudo. Desde que cheguei no Reino Unido no meio de setembro mudei minha opinião mais de uma vez sobre o que é Londres. Vou tentar juntar o quebra-cabeça da melhor forma possível em posts separados para explicar o que aconteceu nestes quase já quatro meses vivendo em outro continente.

A primeira coisa que fiz ao chegar foi ir direto para a acomodação deixar minha bagagem e fazer o reconhecimeto padrâo de turista. Como qualquer cidadão gosto do conforto de ter uma cama com aquele colchão ortopédico que você gastou umas duas horas na loja rolando de um lado para outro para testar as molas super modernas importadas dos EUA, de um banheiro com box blindex sem ruido feito sob encomenda, de um quarto onde as coisas “parecem” estar no lugar delas, bem… acho que já deu para entender. No entanto, como outros milhões de brasileiros, também não ligo de ficar uma vez e outra no hotel meia estrela da vida, o que nos leva ao quarto que eu aluguei em Londres. A casa fica no bairro de Hackney, zona 2 de Londres, próximo da estação Manor House de metrô. Ao chegar no meu quarto localizado no subsolo (hoje carinhosamente apelidado de “calabouço”) me deparo com o que a pricípio parece ser um agradável cativeiro três estrelas. Móveis estilo minimalista descartáveis, semi-camas com molas fabricadas para arremessar o usuário, carpete com pricípio de calvice em áreas localizadas, etc. O banheiro é inspirado nos banheiros de rodoviária onde os azulejos já vem com cor de sujeira e se você procurar nos cantos mais encondidos do ambiente sempre tem uma surpresa.

Em Londres e em grande parte da Europa as casas possuem piso encarpetado e sistema de aquecimento central distribuido pela casa através dos famosos “heatings” ou “radiators” que também quebram o galho de vez em quando como secadores (ou defumadores) de roupa, afinal estamos no inverno e a tendência das roupas quando penduradas no varal é congelar. Normalmente as portas e janelas tem que ficar sempre fechadas para manter o frio lá fora. O resultado da combinação de tudo isso é um típico e suave aroma de mofo europeu… mas nada que você não se acostume com uma semana ou duas.

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O melhor ambiente da casa é a cozinha. Virou o espaço social não oficial já que não temos uma sala. Na casa moram aproximadamente 15 pessoas. A grande maioria brasileira de Porto Alegre, dois gregos, um turco e até a pouco tempo atrás quatro polonesas. Uma das melhores coisas de morar em uma cidade como Londres é de conhecer pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. Um outro ponto forte da casa onde eu moro é que todos gostam de conversar, dividir as experiências européias, sair… em resumo… gente fina que eu vou voltar a falar mais em outros posts.

Londres não parece uma cidade inglesa e sim uma espécie de capital do mundo. Em qualquer esquina na rua, lanchonete, ônibus, supermercado ou metrô você pode ouvir facilmente três linguas diferêntes ou ao menos sotaques totalmente distintos de pessoas falando inglês. Indianos, turcos, brasileiros, colombianos, inglêses, africanos, tailandeses e muitas outras nacionalidades convivendo juntas.

Do Limbo para a Inglaterra

Posted in São Paulo on agosto 16, 2008 by pedron

Finalmente depois de pouco mais de dois meses de suspense constante e sem saber nada a respeito do andamento da minha apelação sai o resultado. Mas antes de falar sobre isso deixa eu contar um pouco como foi a “Odisséia do Visto”.

Tive o meu visto recusado no fim de junho de 2008. O Consulado Britânico alegou que eu não precisava aprender inglês para minha área e que eu nunca havia trabalhado. Reenviei todos os documentos novamente mais os documentos que provam que eu já trabalhei (E muito!!! Ta pensando o que?). Não havia enviado antes porque me disseram que se você não estiver empregado agora não adiantava mandar. Mandei um pedido de review e a apelação.

Para mim foi complicado porque eu já contava como certa a aprovação do meu visto, uma vez que enviei tudo o que foi pedido, inclusive uma carta de uma empresa no Brasil mostrando a intenção de me contratar no retorno. Na recusa da embaixada disseram que o texto da carta era vago e do tipo genérico (comum). Digitei novamente a carta, mostrando agora o cargo que eu ocuparia e até o salário que eu receberia. Depois de reenviar todos os documentos para a minha apelação agora não tem jeito…

…entro então para o temido Limbo dos Vistos Britânicos. Não há nada o que você possa fazer a não ser esperar.

Se conciderarem o meu pedido de review a resposta pode ser mais rápida (um mês aproximadamente), senão a apelação pode levar os tais 6 meses ou mais. Uma alternativa seria pedir a documentação toda de volta e entrar com um novo pedido de visto … acho que ai seria mais rápido. A desvantagem é de ter que pagar a taxa consular de novo.

Depois de 2 meses de espera eu já não aguentava mais o suspense. Conversei com a Carolina que está me ajundando no meu processo e ela recomendou esperar mais uma semana antes de pedir todos os documentos de volta. Concordei… afinal o que é uma semana depois de 2 meses quase enlouquecendo?

Dois dias depois e alguns cabelos a menos me ligam do Consulado Britânico pedindo para eu enviar meu passaporte. MINHA APELAÇÃO FOI APROVADA!!!! Eu vou pra Califooooorniaaaa!!!!! … quer dizer… PRA LONDRES!!!!! É isso ai!!! Chá das 5, tempo feio, peixe com batatas… você sabe… LONDRES!!! Mesmo depois de o funcionário do Consulado ter dado a tão esperada notícia perguntei novamente se o meu visto havia mesmo sido aprovado, afinal não custa nada confirmar para ter certeza.

Vou mandar o meu passaporte para o Consulado carimbar e depois disso….. Fish ‘n’ Chips!

Fish and Chips é um prato tipico da culinária do Reino Unido. Consiste em peixe frito envolvido num polme, acompanhado por batatas fritas, vendido tradicionalmente embrulhado em folhas de jornal.